Ignácio Rangel e Silvia Federici: o trabalho reprodutivo no centro do debate sobre desenvolvimento
Palavras-chave:
desenvolvimento, subdesenvolvimento, cuidado, questão agráriaResumo
Em um contexto pós pandêmico, a discussão sobre o trabalho do cuidado voltou para o centro do debate entre desenvolvimentistas, seja para viabilizar as infraestruturas do cuidado, seja para pensar a reindustrialização nacional através da criação de um complexo industrial da saúde. Há mais de sessenta anos um pouco estudado intelectual marxista brasileiro já selecionava esta questão como nevrálgica para entender a reforma agrária, as contradições do processo de industrialização e a inflação: este é Ignácio Rangel. Neste artigo, é oferecido uma leitura da questão agrária na obra do economista maranhense, tendo como ótica a importância do trabalho doméstico (majoritariamente realizado por mulheres) para o entendimento do subdesenvolvimento brasileiro, bem como os desafios para sua superação. Defende-se que menos do que uma consideração lateral, Rangel, em pelo menos quatro de suas obras (basilares para o argumento aqui desenvolvido) - , demonstrava que as condições de transferência do trabalho realizado na “economia natural” (seja nas cidades, seja no campo) para o emergente mercado de trabalho era um dos principais desafios para o desencadeamento do processo de desenvolvimento econômico. Nesse sentido, inspirado pelas considerações teórico-metodológicas da marxista Silvia Federici sobre a importância do trabalho doméstico para o mundo da produção, é feito aqui uma leitura da obra de Rangel a partir da questão do cuidado, buscando identificar avanços e potenciais limites de seu pensamento sobre esta questão, sem, no entanto, escorregar em certos anacronismos. Por fim, defende-se que tal perspectiva pode liberar novas formas de interpretar os clássicos do pensamento econômico brasileiro.