Chamada de artigos revista Princípios – edição nº 166
DOSSIÊ: CLASSES SOCIAIS NO BRASIL CONTEMPORÂNEO
A revista Princípios (ISSN:1415-7888; E-ISSN: 2675-6609), periódico científico de teoria, política e cultura, torna pública a chamada de artigos e ensaios para o dossiê temático “Classes sociais no Brasil contemporâneo”, organizado pelo professor doutor Máximo Augusto Campos Masson (UFRJ), com publicação prevista para janeiro de 2023.
Este edital convida pesquisadores de diferentes formações e áreas de conhecimento a apresentarem suas contribuições sobre problemáticas relativas à constituição e configuração atual das classes sociais no Brasil — suas características e relações —, considerando a condição peculiar do país no cenário mundial e latino-americano, bem como as mudanças ocorridas na estrutura social brasileira entre o final do século XX e este início de século XXI, após décadas de implementação do projeto neoliberal em nosso país.
A conceituação e identificação das classes sociais é temática que percorre toda a trajetória das ciências sociais, com efeitos incisivos sobre os estudos no âmbito de áreas do conhecimento correlatas, como a história e a geografia, além daquelas mais afeitas a campos interdisciplinares, como as relações internacionais, os estudos sobre saúde coletiva, a demografia, a educação e a comunicação, sem esquecer da interlocução que se formou ao longo do século XX entre ciências sociais e psicanálise, em que o exame das relações entre indivíduo e sociedade não pode prescindir de referências às classes sociais.
Presentes de forma inconteste nos discursos e narrativas políticas que emergiram com a afirmação do capitalismo, no trato de temas tão diversos como os conflitos de interesse ou o definhamento das tradições, as classes sociais foram apreendidas e definidas a partir de enfoques variados, não se podendo conceber perspectiva teórica nas ciências sociais que as desconsiderem, mesmo quando em seus arcabouços conceituais o tema não ocupe posição central.
No Brasil e, podemos dizer, em toda a América Latina, os processos de modernização e inserção no cenário internacional, que se fizeram acompanhar do aprofundamento da dependência econômica e das desigualdades, tornaram a temática das classes elemento central para o entendimento da realidade socioeconômica e política da região. Em estudos realizados em nossas universidades e centros de pesquisa, logo se tornaram claras as insuficiências das transposições imediatas de análises fundadas nos processos constituintes das sociedades capitalistas avançadas, o que levou a esforços teóricos visando apreender o que nos era específico e singular.
Diversos foram os debates acerca das possibilidades de formulação de entendimentos sobre nossa realidade social buscando identificar essas peculiaridades. Muitos estudos orbitaram em torno aos traços característicos do empresariado local ou da “burguesia nacional”; dos contingentes rurais, cujas características escapam às do campesinato europeu; das enormes massas que ainda aspiram a estatutos distintos da informalidade; do proletariado urbano, que hoje se reconfigura com as indústrias emergentes e as sucessivas revoluções nos métodos produtivos.
Ao chegarmos ao final do primeiro quarto do século XXI, após a predominância das políticas de inspiração neoliberal, o intercurso dos governos de centro-esquerda e o retorno do conservadorismo extremado, deparamo-nos com cenários sociais em que novos elementos se fazem presentes. Eles se manifestam de múltiplas formas: a emergência de movimentos que se definem por identidades e muitas vezes não consideram a centralidade da questão de classe; as dificuldades de identificação mais precisa do que vem ser contemporaneamente o grande empresariado do país, em particular após acelerado processo de desindustrialização e domínio desregulado do capital financeiro; a intensa informalidade dos trabalhadores urbanos, fenômeno que, ao menos em aparência, lança à margem da história as imagens clássicas do operariado e seus sindicatos; as novas situações vividas nas áreas rurais brasileiras, envolvendo o agronegócio, a agricultura familiar e o operariado rural.
Frente, portanto, a questões conceituais que perduram e aos novos contextos marcados pelo crescimento das desigualdades – ainda mais acentuadas em tempos de pandemia –, mas sobretudo pela adoção extremada dos postulados neoliberais, em que se execrou qualquer protagonismo do Estado como indutor do desenvolvimento nacional, a revista Princípios propõe a realização de esforços críticos em torno das seguintes questões e temáticas:
- O conceito de classe social e sua pertinência para a compreensão do capitalismo contemporâneo e da sociedade brasileira. Elementos essenciais para a definição desse conceito à luz das transformações do capitalismo, no Brasil e no mundo.
- A burguesia brasileira ainda é a mesma? Continuidade e mudanças do empresariado brasileiro após décadas de predomínio do neoliberalismo e da financeirização. Estratificação e frações da burguesia brasileira.
- Caracterização conceitual do proletariado urbano e dos trabalhadores do mercado formal — suas expectativas, interesses e projetos organizacionais e políticos. Diferenciações e proximidades.
- Exame teórico dos amplos conjuntos de trabalhadores cujas classificações ainda são polêmicas, considerando, em particular, os contingentes reunidos sob a denominação “precariado”, cada vez mais imersos em um “universo sem futuros possíveis”, com vivência restrita à reprodução contínua do viver na informalidade;
- Identificação das chamadas “classes médias”, suas características em um capitalismo sem maiores regulações e de domínio do capital financeiro, em que tendem a oscilar entre a apatia política e a adesão a manifestações variadas de conservadorismo, incluindo formas renovadas de fascismo;
- Caracterização dos agentes do agronegócio, suas relações no cenário internacional, suas perspectivas políticas e visões sobre a sociedade brasileira. Distinções possíveis entre o agronegócio contemporâneo e as formas mais típicas da exploração fundada na grande propriedade rural;
- Análise das classes subalternas no campo brasileiro — identidades comuns, diferenciações quanto a interesses e projetos políticos. As formas de organização que se desenvolveram nas últimas décadas do século XX ainda conseguem responder às transformações que ocorrem no cenário rural brasileiro, sobretudo diante da intensificação da violência no campo?
Os temas propostos não excluem outras propostas de trabalho para o dossiê. Dadas as amplas possibilidades de discussão e enfoque da temática, proposições alternativas são bem-vindas, especialmente se originais em suas abordagens de questões referentes à composição das classes sociais no Brasil de hoje.
A revista também aceitará contribuições de relatos de pesquisas, ensaios e resenhas com temáticas diversas, de modo a compor as demais seções da publicação, não diretamente relacionadas à temática do dossiê.
As contribuições devem consistir em textos originais e inéditos escritos em português ou traduzidos para esse idioma com autorização de seus autores e que estejam em conformidade com as normas da revista (disponíveis em anexo).
As contribuições deverão ser submetidas no endereço eletrônico https://revistaprincipios.emnuvens.com.br/principios/about/submissions até o dia 15 de novembro de 2022.
São Paulo, 2 de agosto de 2022.
Comitê Editorial da revista Princípios