Solidariedade S/A
o Grupo Globo e o que virá depois da pandemia
DOI:
https://doi.org/10.4322/principios.2675-6609.2020.160.013Palavras-chave:
Novo coronavírus; Rede Globo; Solidariedade; Pandemia.Resumo
Desde o início da pandemia do novo coronavírus, o Grupo Globo, como principal e maior empresa de comunicação do país, organiza-se na oposição ao governo de Jair Bolsonaro, apontando-o como principal responsável pela crise sanitária ocasionada pelo Sars-Cov-2. Ao mesmo tempo, lançou a campanha Solidariedade S/A, a partir da qual divulga empresas que, através de investimentos em doações, contribuem no combate à pandemia. O artigo parte da hipótese de que, criada para ser o principal veículo ideológico das modernizações capitalistas no Brasil após a Ditadura Militar, a Rede Globo vem incidindo ideologicamente no debate público, no sentido de neutralizar possíveis crises sociais, indicando o mercado como legítimo reparador das contradições causadas pela pandemia do novo coronavírus. A partir de uma análise de conteúdo de sete matérias jornalísticas, publicadas entre março e setembro de 2020, escolhidas a partir do site g1.com, o presente artigo pretende identificar tendências, estabelecidas por essa empresa de comunicação, à reorganização da sociedade brasileira para o período pós-pandemia. As matérias analisadas apresentam ideias como a união de toda a população (a despeito das classes sociais) em torno de um objetivo comum, superar a pandemia. Em adendo à ideia de união abstrata, o Grupo Globo vocaliza a concepção, apresentada pelas empresas, de que o Estado não resolverá a crise, daí a importância da iniciativa dos empresários. E o que, em compasso com a sua própria história, a maior empresa de comunicação do Brasil oferece é a continuidade do regime de acumulação capitalista.