Ignácio Rangel e Silvia Federici
O trabalho reprodutivo no centro do debate sobre desenvolvimento
DOI:
https://doi.org/10.14295/principios.2675-6609.2024.170.010Palavras-chave:
Desenvolvimento, Subdesenvolvimento, Cuidados, Questão agrária.Resumo
Em um contexto pós-pandêmico, a discussão sobre o trabalho de cuidados tem voltado para o centro do debate entre desenvolvimentistas, seja para viabilizar as infraestruturas de cuidados, seja para pensar a reindustrialização nacional através da criação de um complexo industrial da saúde. Há mais de 60 anos um pouco estudado intelectual marxista brasileiro já julgava essa questão nevrálgica para entender temas como a reforma agrária, as contradições do processo de industrialização e a inflação: Ignácio Rangel. Neste artigo, é oferecida uma leitura da questão agrária na obra do economista maranhense, tendo como ótica a importância do trabalho doméstico (majoritariamente realizado por mulheres) para o entendimento do subdesenvolvimento brasileiro, bem como dos desafios para sua superação. Mais do que fazer apenas considerações laterais acerca desse tema, Rangel, em pelo menos quatro de suas obras (basilares para o argumento aqui desenvolvido), demonstrava que as condições de transferência do trabalho realizado na “economia natural” (seja nas cidades, seja no campo) para o emergente mercado de trabalho era um dos principais desafios para o desencadeamento do processo de desenvolvimento econômico. Nesse sentido, sob a inspiração das considerações teórico-metodológicas da marxista Silvia Federici sobre a importância do trabalho doméstico para o mundo da produção é feita aqui uma leitura da obra de Rangel a partir da questão dos cuidados, buscando identificar avanços e potenciais limites de seu pensamento sobre essa questão, sem, no entanto, escorregar em certos anacronismos.
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