Deus, pátria e família
Similaridades conjunturais e retórica conservadora durante os Factory Acts, a era Vargas e a ascensão do bolsonarismo no Brasil
Resumo
As interpretações sobre a ascensão de grupos conservadores que levaram Jair M. Bolsonaro à Presidência da República Federativa do Brasil têm sido motivo de controvérsias na imprensa especializada e entre intelectuais. Neste artigo, sustentamos a tese de que o materialismo histórico, com as lutas de classes como motor do processo histórico, ainda oferece o melhor sistema teórico econômico e social para compreendermos a crise política no Brasil. Para respaldar nosso argumento de que a tipologia dos conflitos atuais não é algo endêmico da realidade brasileira nem essencialmente “novo”, analisamos eventos de conflito de classes em dois recortes históricos distintos: os Factory Acts (leis fabris), no século XIX, na Inglaterra; e a era Vargas, entre os anos de 1930 e 1954 no Brasil. Em ambos os casos, destacamos eventos em que as práticas burguesas foram muito similares — às vezes idênticas — às vivenciadas no Brasil pré e pós-impeachment de Dilma Rousseff, incluindo as práticas antidemocráticas e o apelo a slogans como “Deus, pátria e família”.