O vírus e o conceito de vida em tempos de pandemia

Resumo

A pandemia da covid-19 (causada pelo vírus Sars-CoV-2) tem vitimado milhões de pessoas em todo o mundo, gerando discussões sobre vários aspectos. No âmbito da filosofia da biologia e na biologia, o debate sobre o conceito de vida sempre se colocou como desafio, uma vez que conceitos operacionais utilizados na biologia nem sempre deram conta de sua complexidade, sendo possível até então conceituar processos vitais, mas dificilmente a própria vida. O vírus, devido à sua constituição parasitária obrigatória, além de não se integrar à teoria celular, abre um leque de discussões por situar-se na fronteira vida/não vida. O vírus permanece inerte fora da célula hospedeira, mas atuante quando em relação de parasitismo, podendo levar seu hospedeiro à morte. O objetivo do  artigo é discutir a noção de vida à luz da seleção de replicadores, visando analisar a informação genética como atributo universalizante dos organismos, e, a partir dessa discussão, contribuir por meio da análise filosófica para a formulação de um conceito de vida na biologia. Como resultado da presente análise, constatamos que o vírus não pode ser excluído do processo evolutivo natural, uma vez que compartilha informação genética, bem como sua origem por via do mundo do RNA, corroborando também a replicação da informação genética, comum no mundo vivo. Além disso, o vírus se organiza simbioticamente diante das propriedades intrínsecas e emergentes dos processos vitais, o que nos leva a concluir que os critérios operacionais não abarcam os vírus como seres vivos, ao passo que a seleção de replicadores, sim.